Ao longo deste ano, o mundo vem vivendo uma realidade extraordinária de novos hábitos e comportamentos, criados e ajustados para responder à pandemia do covid-19. Uma das consequências negativas observadas nesse período é o fato de o distanciamento social propor a condição de confinamento, reduzindo assim as ocasiões de exposição à luz solar e trazendo à tona uma antiga fragilidade global: a deficiência de vitamina D.
Inicialmente, a vitamina D era considerada apenas parte de uma classe de vitaminas, mas com a evolução dos seus estudos passou a ser classificada como um pró-hormônio, que desempenha papel central na saúde do esqueleto, está relacionado a diversos processos do organismo e implica na saúde cardiovascular, prevenção de cânceres, doenças do sistema nervoso,doenças reprodutivas, doenças autoimunes e infecções, entre diversas outras condições.
As duas principais fontes devitamina D são a suplementação dietética exógena e, principalmente, a produção endógena a partir da exposição da pele ao sol.
Uma pequena quantidade devitamina D ativa na forma de colecalciferol pode ser obtida a partir da ingestão alimentar de origem animal: os alimentos com teores mais significativos são gemas de ovo e peixes azuis. Já o ergocalciferol, outra forma de pré-vitamina D, é encontrado em determinados alimentos de origem vegetal.
De modo que a vitamina D pode sim ser introduzida à dieta, mas apenas limitadas formas de alimentos são úteis para tal finalidade. Além dos ovos e peixes azuis, a pequena lista inclui outros peixes oleosos, como o salmão, o óleo de fígado de bacalhau e alguns cogumelos. E em alguns países, como Reino Unido e Estados Unidos, por causa da valorização dos benefícios pleiotrópicos desta vitamina para a saúde humana, a fortificação de alimentos industrializados (como o leite e o suco de laranja) com vitamina Dé também uma estratégia popular.
Como explicamos, apesar de não ser a principal fonte, a ingestão oral contribui para manter o status adequado de vitamina D e a quantidade diária de ingestão recomendada pelo Institute of Medicine é estimada em 400 IU até os doze meses; após um ano de idade, recomenda-se 600 UI/dia, e após os 71 anos o valor indicado chega a 800 UI por dia. Embora a American Endocrine Society recomende manter a ingestão diária entre 400 e 1000UI, no primeiro ano de vida, e 600 a 1000 UI/dia em diante.
Sobre os níveis de vitamina D considerados normais, as sociedades também apresentam opiniões diversas. Em 2009, o 25(OH)D foi estabelecido como o melhor marcador sanguíneo do status de vitamina D. Porém enquanto o Institute of Medicine expõe 20 ng/mL como o limitemínimo para níveis saudáveis e suficientes, a American Endocrine Society define a marca abaixo de 20 ng/mL como deficiente, o nível entre 20 e 30 ng mL como insuficiente, e declara valores acima de 30 ng mL como adequados para manter uma boa saúde.
Outros determinantes potenciais do status de vitamina D incluem idade, sexo, índice de massa corporal, atividade física, ingestão de álcool e polimorfismos genéticos, com as mulheres sob maior risco de deficiência do pró-hormônio.
E vale destacar que os altosíndices de massa corporal e baixos níveis de atividade física também estão associados ao status inadequado de 25-hidroxivitamina D. Estudos demonstram que a correlação com a atividade física permaneceu estatisticamente significativa,mesmo após o ajuste de exposição ao sol durante atividades como passatempos ao ar livre e esportes. Portanto, o aumento da atividade física por si só está associadoa um melhor status de vitamina D.
De fato, a principal fonte para obter maiores quantidade de vitamina D é uma reação fotoquímica ao sol, apartir da exposição da pele à radiação ultravioleta e, mais especificamente, à radiação UVB.
O ergocalciferol (vitamina D2) é proveniente da irradiação UV do ergosterol, enquanto o 7-desidrocolesterol epidérmico (ou pró-vitamina D3) absorve o UVB e se transforma em pré-vitamina D3. Esta reação é uma etapa obrigatória na síntese do produto biologicamente ativo, o calcitriol. A pre vitamina D3 é então convertida em vitamina D e, posteriormente, as reações de hidroxilação ocorrem em vários tecidos.
A vitamina D produzida na pele ou obtida com os alimentos é biologicamente inativa e requer duas hidroxilações subsequentes para atingir a sua plena atividade hormonal. A primeira, quando a vitamina D é convertida em 25-hidroxivitamina D nos hepatócitos, e a segunda que ocorre então no rim, devido à ação de outra hidroxilase.
Além dos processos metabólicos, a condição de exposição ao sol e o tipo de pele de Fitzpatrick são dois fatores importantes que influenciam o nível de vitamina D no organismo.
Entende-se que a pele branca produz vitamina D com mais eficiência do que a pele escura. Estudos apontam queo clima do norte da Europa ofereceu um desafio evolutivo para os primeiros seres humanos que colonizaram o continente e a escassez de luz solar em comparação com a África tropical permitiu o uso eficiente de períodos curtos de sol. E que, além disso, a pele branca é capaz de sintetizar vitamina D mesmo em épocas com menor incidência de luz solar, como o início e final do verão.
As práticas usuais de exposição solar, incluindo intensidade, frequência, duração e hábitos de proteção, foram compiladas e os resultados demonstram que a baixa exposição ao sol no verão confere suficiência de vitamina D em pessoas de pele clara, junto com danos mínimos ao DNA, enquanto a mesma quantidade de exposição produz danos de baixo nível ao DNA, mas menos vitamina D em pessoas de pele escura.
A temporada de verão, junto com a latitude mais baixa e maior intensidade solar, são associadas a um risco menor de deficiência de vitamina D e em latitudes mais altas, maiores ângulos de zênite solar resultam em condições menos favoráveis para a produção de vitamina D e, durante o inverno, a síntese de vitamina D diminui significativamente.
Deve-se considerar que, além daexposição direta, a radiação solar é refletida por superfícies como neve, areia, concreto e água, com características próprias em cada caso.
A reflexão dos raios UVB e UVA da maioria das superfícies do solo é normalmente inferior a 10%. As principais exceções são a neve, que pode corrigir até 90%, embora a refletância de cerca de 30-50% seja mais comum, e a areia branca, que reflete cerca de 10-30%.
Apesar da crença popular, tomarbanho de mar ou em piscinas ao ar livre não são práticas que oferecem proteçãocontra queimaduras solares, pois a radiação atravessa facilmente a água e é oambiente agitado que mais reflete a radiação ultravioleta, cerca de 20%, contraos 5% refletidos em água calma.
E a radiação ultravioleta ambiente é de 100% quando não há sombra nem reflexos, uma vez que os fatores UVA e UVB ambientais são compostos pelos UVA e UVB recebidos diretamente do sole os UVA e UVB difundidos por dispersão na atmosfera. De modo que a radiação solar ambiente difusa resulta em "sol na sombra" - sendo possível receber cerca de 50% da radiação ultravioleta ambiente se situado às margens da sombra de uma árvore em comparação com menos de 15% quando no centro da sombra da árvore, por exemplo.
Agora, já está bem estabelecido que a luz solar (principalmente a ultravioleta tipo UVB) é necessária para aprodução eficiente de vitamina D. Entretanto, paradoxalmente, a mesma radiação solar é considerada um dos fatores mais nocivos para a pele.
O UVB causa danos diretos ao DNAe células, contribuindo para o desenvolvimento de neoplasias cutâneas. Poroutro lado, os UVA são os principais responsáveis pelo envelhecimento da pele. Sendo assim, durante as últimas décadas, médicos e cientistas vêm alertando para o perigo potencial dos banhos de sol. E como resultado, as pessoas em todo o mundo evitam o sol e se tornam potenciais vítimas de deficiência da vitamina D.
Entretanto, apesar dos esforços para reduzir a exposição ao sol, o número de novos casos de melanoma e outros tipos de câncer não-melanoma aumentou constantemente nos últimos anos. Este dado poderia ser atribuído a melhor metodologia de diagnóstico, mas também pareceque simplesmente evitar o sol não é a solução.
Controversamente, a forma ativa da vitamina D – calcitriol – foi demonstrada como um fator importante na prevenção do câncer. O pró-hormônio demonstrou ter propriedades antiproliferativas, incluindo a inibição da angiogênese e capacidade metastática em alguns tumores, e também participa do reparo do DNA. No sistema metabólico, a vitamina D desempenha um papel importante na homeostaseglicídica, lipídica, arterial e vascular, também modula as respostas imunes e na dermatologia é importante devido aos seus efeitos imunomoduladores nos queratinócitos,e outros estudos mostraram que a suplementação de vitamina D melhorou a pressão arterial em pacientes hipertensos.
Portanto, é claro que a vitamina D não apenas desempenha um papel no metabolismo ósseo, mas também está envolvida em muitas outras funções essenciais em nosso organismo.
Apesar das divergências causadas pelo tema “exposição ao sol”, concluímos ressaltando que a foto produção ideal de vitamina D pela pele não requer banhos de sol extensos. Aproximadamente 15 minutos de exposição dos braços e pernas em dia ensolarado (0,25-0,50 doseeritemal mínima) é suficiente para gerar o equivalente a cerca de 2000-4000 UI de vitamina D – lembrando que para a produção endógena as áreas do corpo expostas ao sol devem estar descobertas e sem o uso de protetor solar.
Gostaram das informações? A pele humana parece estar inseparavelmente conectada a vitamina D, por ser a sua principal fonte de processamento e também um de seus principais alvos de atuação.
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Vitamin D and the Skin: A Review for Dermatologists / F.J. Navarro-Trivino, S. Arias-Santiago, Y. Gilaberte-Calzadac/ Received 19 March 2018; accepted 2 August 2018/ Available online 18 April 2019
Vitamin D and the Skin: An Update for Dermatologists / Elio Kechichian, Khaled Ezzedine / Springer International Publishing AG 2017 / DOI: 10.1007/s40257-017-0323-8
UVR: sun, lamps, pigmentation and vitamin D / C. M. Lerche, P. A. Philipsena, H. C. Wulfa / Department of Dermatology, D92, Bispebjerg Hospital, University of Copenhagen, Copenhagen, Denmark / 2017
Vitamin D in the skin physiology and pathology / Anna Piotrowska, Justyna Wierzbicka, Michał A. Żmijewski / Department of Histology, Medical University of Gdańsk, Gdańsk, Poland
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